quarta-feira, 9 de junho de 2010

MEU JEITO DE DIZER QUE TE AMO

Partindo do princípio em que o meio é o produto dos extremos dividido por dois e caso o movimento seja coerente com as pretensões da força centrípeta, indetermino o sujeito e passo a concluir que o verbo é irregular. Cada passo no mais sentido restrito é inerte, cada função no mais sentido proscrito é retrograda. Coexistência uniforme variada. Procuro achar a incógnita que define o nosso problema, o caminho que leva a razão da progressão geométrica. Sei também que a base disso tudo posso multiplicar pela altura e dividir por dois. Será que todo corpo em equilíbrio está em repouso ou todo corpo em repouso esta em equilíbrio?
O brilho dos teus olhos é que me fascinam! Esses olhos de hipotenusa me dividem ao meio. Não sei qual o ângulo, mas a altura mediana e a área são bastante proporcionais. Cada metro ao quadrado por segundo que fico ao seu lado me sinto como um imóvel. Quando me encosto no seu corpo minhas células se dividem formando a mitose. Não tenho mais ATP para resistir a tanta emoção! Minha cabeça gira num orbital em torno do núcleo e o nível energético é desproporcional.
O tempo é curto e de uma eletronegatividade profundamente apolar. A onde vamos? O que se passa na estrutura júridica-política-matrimonial? Não sou contra a reforma nem a favor, muito pelo contrário! A culpa é da baixa renda per-capita e o ar puro do campo não justifica o êxodo rural.
É esse clima tropical que suga as últimas gotas de suor do nosso corpo, essa região sudeste poluída, comprimida arranhando as praias. Nesse sistema feudal a terra é curta e a rotação não faz mais efeito. Quem sabe a solução não seria o capitalismo?
Teu olhar não me sai da lembrança, esses olhos pequenos como átomos. Eu gostaria de estar ao teu lado todos os momentos. O calor exotérmico que irradia teu corpo aquece minha alma e produz trabalho. A alavanca interfixa de teus braços me aperta com toda força de tração. São relações puramente de escambo. O que se passa por dentro de mim nesse instante é uma revolução muito diferente à industrial ou qualquer outra que venha acontecer nos tempos modernos.. Quando te vejo a membrana plasmática de minhas células adquirem turgência, ficam super-hidratadas e alcançam a ruptura!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A FEIRA


Na madrugada chegam os caminhões transportando as madeiras, em breve o cenário estará armado.
A feira vai crescendo, crescendo .... Enquanto as barracas estão nuas, só no esqueleto é feia, nos dá impressão de fósseis de animais pré-históricos amontoados. Depois que as frutas, as verduras e os legumes são colocados em ordem, que as lonas coloridas são lançadas como velas no topo das barracas, vem o sol com seus raios luminosos dar vida ao espetáculo. Tela de tons diferentes, figuras nas mais variadas formas. Assim, a primeira vista nos dá a sensação de liberdade e fartura.
As pessoas vão chegando com suas fantasias e entram em cena: uma esmola pelo amor de Deus! Uma esmola pelo amor de Deus! - implora um homem sem as pernas num canto da calçada. Olha a laranja! Couve-flor! Banana maçã! Abacaxi! Abacate! Melão! Tomate! Alface! Tangerina!
No meio da balbúrdia ouve-se um canto triste que vai se propagando lentamente. Os dedos ágeis do cego deslizam pelas teclas da acordeon. Mesmo sem ver as cores da festa ele a compreende, compõe e interpreta sua trilha sonora.
Olha a banana! Banana prata! Laranja seleta! Banana ouro! Laranja lima! Maçã Argentina! Olha o caqui, aqui é mais ba-ra-to! Alho! Cebola! Salsa! Vagem! Cenoura! Beterraba! Batata doce! Jiló! Agrião!...
As crianças subnutridas da favela com os seus olhos de desejo e a abundância das barracas causam um contraste marcante ao espetáculo.
Logo adiante, junto à barraca de peixe do italiano há um aglomerado. Um senhor de cabelos grisalhos, óculos escuros, vestido elegantemente com um terno claro, gesticula no centro da roda. Sem que despertem as atenções, três homens fortes mantêm-se sempre próximos. O candidato a deputado promete, entre sorrisos e abraços, mudar os rumos da nação.
Olha a banana! Uma esmola pelo amor de Deus! Abacaxi! Uva! Alface! Cenoura! Couve-flor! Laranja lima!...
Agora o sol está mais quente, nota-se estampada no rosto das pessoas a tensão. Todos falam ao mesmo tempo, feirantes apregoam suas mercadorias, o cego toca, fregueses reclamam dos altos preços e um pastor protestante prega o evangelho: aleluia! Aleluia! Aleluia irmão! Aleluia!!! De repente um como se fosse um alarme, um grito aterrorizador ecoa na feira: Pega ladrão!. Pega ladrão! Pega ladrão! Pega!!! A acordeom do cego se cala. Imediatamente policiais correm de arma em punho, mulheres buscam abrigo entre as barracas. Por poucos segundos a feira ficou vazia, abriu-se um clarão entre o corredor de barracas. Surge então cercado por um cordão de policiais, um menino de olhos esbugalhados e pernas trêmulas. O primeiro soco atinge-lho o ouvido direito e o faz rodopiar, um enxame de abelhas começa a zunir em sua cabeça. Vem um outro soco, uma ponta pé. Ele ouve apenas um murmúrio, vozes soltas no ar parecendo uma rádio ligada em várias estações ao mesmo tempo: uma esmola pelo amor de Deus! Uma esmola pelo amor de Deus! Olha a laranja! Laranja lima! Abacaxi! Melão! Pega! Pega ladrão! Uva! Melancia! Alface! Olha o mamão! Aleluia! Aleluia irmão! Banana ouro! Banana prata! Batata doce! Uma esmola pelo amor de Deus! Jiló! Cenoura! Alface! Pega! Pega ladrão! Laranja pêra! Maçã Argentina! Beterraba! Uma esmola pelo amor de Deus! Pega! Pega ladrão! Aleluia! Aleluia irmão! Pega! Deus! Amor! Aleluia! Pega! Deus! Aleluia! Amor! Deus! Amor! Pega!..........Deus!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
GARRAFEIRO


O dia amanhece e o homem calçado com tamancos, vestido calças listradas, camiseta branca e gorro na cabeça, desce a rua, puxando o seu carrinho de duas rodas em busca de garrafas, revistas e jornais. Garrafeiro! Garrafeiro! Garrafeiro! Garafeiiiiro! Ali aos poucos vão se compactandado notícias de todos os países. O mundo oscila e se estabiliza no salto de seus tamancos corroídos pelos paralelepípedos do caminho. São quilômetros percorridos diariamente a procura desse material desprezível. Uma atitude política e ecologicamente correta e talvez quem sabe, a implantação do processo de reciclagem em nosso país, antes mesmo da crise ambiental ganhar a proporção ameaçadora de hoje. Porém inconsciente, sem nenhuma conotação política ou ambiental, apenas a forma exaustiva encontrada de sobrevivência nesta nova terra.
Tarefa árdua, conduzir tanta desigualdade social e se manter estável, conviver lado a lado com as autoridades e distante do poder e das regalias que esse proporciona. Ah, esse mundo composto de papel é flácido e inflamável, a tinta deixa uma mancha escura nas mãos e na própria alma!
Patrício português que atravessou o atlântico em busca de liberdade, essas ruas são suas e o material disponível é farto. Diariamente as maquinas rodam milhões de folhas e as notícias são as mais variadas possíveis - os homens relatam, retratam e inventam. Há sempre um rosto, um crime e um herói. Agora mesmo, neste momento algo esta acontecendo; nas maternidades, mulheres dão a luz, cientistas procuram em seus laboratórios o método ideal, artistas em seus estúdios e ateliês criam sons, palavras, cores e formas, adolescentes em todos os cantos se rebelam e o poder como sempre, centralizado reprime.
As pedras do caminho estão ai para serem ultrapassadas e o limite é a sua perseverança. Muitos vieram e se foram, mantiveram-se despercebidos diante às notícias. Mas, eu não o poderia deixar passar em vão.
A tarde escurece e o homem sobe a rua puxando o carrinho de duas rodas, carregado de garrafas, revistas e jornais. O pregão se espalha no ar. Garrafeiro! Garrafeiro! Garrafeiro! Garrafeiro! Garafeiiiiiiiroo!!!!!!!!!
NÃO ADIANTA




O tempo estava nublado naquele final de tarde do mês de agosto, as nuvens escuras anteciparam a chegada da noite. Os veículos se arrstavam pelas ruas formando enorme congestionamento, a fumaça produzida pela queima de combustíveis se acumulava no ar, umedecia os olhos, dava um gosto amargo na garganta e uma sensação de asfixia. As pessoas seguiam pelas calçadas estreitas, sujas e esburacadas do centro da cidade, depois de uma exaustiva jornada de trabalho. O fim da tarde é sem dúvida o pior momento do dia, as filas dos ônibus e os engarrafamentos constituem uma prova de resistência e paciência.
A vida transcorria dentro no seu ritmo normal, quando surgiu na avenida um homem completamente despido. O homem nu caminhava lentamente, lado a lado com os automóveis, seu corpo magro e esquio traçava um ritmo compassado que se alternava através do deslocamento de suas nádegas brancas e flácidas. Mas, mesmo assim houve até quem as admirasse com olhos de desejos reprimidos. Algumas senhoras que passavam pela avenida, encabuladas taparam o rosto, as meninas do colégio riram, grande parte da população ficou perplexa e um policial indeciso fugiu para bem longe.
O homem nu prosseguiu e atrás dele imediatamente uma multidão se formou. Homens, mulheres e crianças, trabalhadores, estudantes, aposentados, desocupados, de cor, crença e origens diferentes constituíam uma estranha procissão que tumultuou ainda mais o trânsito. Dentro de poucos minutos a multidão tomou de assalto a avenida, buzinas tocavam, motoristas aceleravam os veículos ameaçando os pedestres. Movidos pelo inusitado acontecimento, a população se deixou levar. Indiferente a todos e a tudo o homem nu caminhava altivo como se fosse um imperador, os espaços se abriam para ele passar no meio da multidão. De repente ele parou diante de uma loja, olhou para o manequim elegantemente vestido na vitrine, coçou as partes íntimas e disse: não adianta! Não, não adianta! Não adianta! Não adianta! Balançou a cabeça, não, não, não!...Não, não, não!!! Não adianta!!!!...
A multidão sorrindo se acomodou em volta da loja despuntando espaço para melhor apreciar a cena, pelo lado de dentro o gerente assustado tentava se comunicar com a polícia. Na verdade, parecia que o homem estava ali, escolhendo as roupas que iria vestir-se e em seguida sair sorridente distribuindo beijos e encartes da casa a todos os presentes – um método novo de “marketing” que revolucionaria todo o mercado da moda no Brasil e no mundo.
O homem continuou com o seu monólogo diante ao manequim: não adianta! Não adianta! Não, adianta! Não, não, não!... Não, não, não!!! Não adianta!!! Balançava a cabeça com insistentes gestos negativos tentando expor a todos a sua insatisfação com a vida. A multidão acompanhava o desfecho, esperava por algo sem saber bem o que era. Num determinado momento todos pararam de rir e o corpo nu deixou de ser uma aberração. Fez-se silêncio e a voz rouca do homem se propagou no ar, suas palavras foram absorvidas pelas pessoas ali presentes e então se instalou a dúvida na cabeça de cada um. Será que o louco estava certo? Naquele final de tarde, cansados retornavam para casa e amanhã recomeçariam tudo novamente. Será que adianta? Enfim chegou a ambulância, os enfermeiros colocaram a camisa de força no homem e o levaram. Ele se foi sem que ninguém soubesse de onde veio. A multidão se desfez, seguiu o seu destino, o trânsito aos poucos voltou ao normal e o manequim ficou só, elegantemente vestido na vitrine”.
Aquelas palavras soltas permanecem gravadas no meu subconsciente. Não sei se adianta, quando tiver certeza, serei eu o louco.
A ROSA DE PLÁSTICO


Hoje esta fazendo um ano que recebi de presente uma rosa de plástico. Ela se encontra ali, em cima do móvel, imóvel. Durante esses doze meses muitas coisas aconteceram: crianças vieram ao mundo, florestas foram devastadas, ergueram-se edifícios, governos foram depostos e homens foram mortos. Mas a ela o tempo não afetou em nada, mantém-se intacta. Esquecida em seu canto ouve os segredos da família, o riso confuso dos adultos, o choro estridente das crianças. Seu perfume de acetileno impregna a sala. Indiferente a tudo e a todos permanece entre nós. Não ingeri e nem elimina, não produz e nem reproduz, é estéril e inútil. A chuva, o vento e o sol, nada lhe faz diferença. Nela nenhum pássaro pousará em busca do pólem ou do néctar nutritivo. Objeto de adorno representa a indiferença pela vida. Sem raízes, ao invés da terra foi fecundada numa fábrica. As mãos que a fabricaram, um dia, cedo ou tarde hão de se imobilizar para sempre e em seguida se decompor obedecendo a lei natural da vida.
Tu rosa de plástico, poderás ficar ai ou em outro canto qualquer enquanto as gerações de minha família irão se passando. Se fores atirada ao lixo ou mesmo ao mar continuarás existindo em alguma parte, não entrarás em decomposição, pois, nem mesmo os fungos e as bactérias a querem.
Por que me deste de presente uma rosa de plástico?
A REGATA


A frente fria pegou a população desprevenida, logo a cidade se recolheu amedrontada e as ruas ficaram desertas. Caiu a chuva fina ameaçando se prolongar por todo o final de semana, lá se foram os planos da maior parte dos cariocas, literalmente, por água abaixo.
A noite chegou antes de seu horário costumeiro, neste instante o sol deveria estar se retirando preguiçoso deixando um rastro de luz vermelha no horizonte. Não houve o crepúsculo, esse momento intermediário entre o dia e a noite – tudo aconteceu muito rápido e os ponteiros do relógio não conseguiram acompanhar o tempo. Escureceu e era dia!
A chuva persistiu, formaram-se poças de água nas calçadas e um riozinho passou a correr feroz junto ao meio fio. Vestindo somente velhos shorts remendados dois meninos brincavam com as águas como se fossem marinheiros. Depositavam seus barquinhos de papel na correnteza, no início da rua e os seguiam no difícil percurso até próximo ao bueiro sedento que engolia tudo. As pequenas embarcações dançavam desengonçadas ameaçando ir a pique a todo o momento. Felizes os meninos vibravam com as ultrapassagens que se alternavam obedecendo ao fluxo intenso das águas. Os pingos encharcavam seus cabelos, escorriam pelos seus corpos seminus. Tantas foram às vezes que subiram a rua transportando seus barquinhos até o ponto de largada que perdi as contas. Também não me foi possível distingui o vencedor da regata, mas pela felicidade em que os dois se encontravam cheguei a conclusão que foi bom ter chovido.
VAMOS!


Guardado a sete chaves há um segredo. Todo segredo tem um ar de mistério, mistura de culpa e malícia.
Chiiuuu! Fala baixo! Ninguém deve nos ouvir! É importante preservá-lo, mante-lo longe das linhas da imprensa e da boca do povo. Mas.., se foi feito é concreto, é fato, podem haver testemunhas, haverão controvérsias, posições extremas e caminhos a seguir.... O que dirão os filósofos nos bares? Os desocupados profissionais? As autoridades competentes, incompetentes, com patentes e sem patentes? O que dirão os loucos? As velhinhas corcundas e os porteiros nordestinos?
Enfim, esse universo não desconfia que há um segredo. Eu penso que você não sabe, não viu, nem ouviu, sequer imagina. Não se criam novos pecados, eles já existiam e de tão velhos caíram no esquecimento. Ou não são pecados?
Chiiuuu! Fala baixo! Podem estar a nos espreitar. Existem ouvidos atentos, curiosos, ansiosos e maliciosos. Cuidado com a repressão, com a sociedade, com os veículos de comunicação! A massa com fermento cresce adormecida e um descuido qualquer, tudo vem a desandar.
Vamos imaginar!? Esse direito é incontestável! Eu sei que você pode, acredite, não custa nada! O mundo é pequeno mas, nele cabem os sonhos contidos em cada alma. É só mergulhar no interior que existe dentro de nós e resgatá-los.
Vamos imaginar?! Vamos?! Guardado há sete chaves há um segredo....... Chiiuuu! Fala baixo! Vamos?!