segunda-feira, 7 de junho de 2010

A REGATA


A frente fria pegou a população desprevenida, logo a cidade se recolheu amedrontada e as ruas ficaram desertas. Caiu a chuva fina ameaçando se prolongar por todo o final de semana, lá se foram os planos da maior parte dos cariocas, literalmente, por água abaixo.
A noite chegou antes de seu horário costumeiro, neste instante o sol deveria estar se retirando preguiçoso deixando um rastro de luz vermelha no horizonte. Não houve o crepúsculo, esse momento intermediário entre o dia e a noite – tudo aconteceu muito rápido e os ponteiros do relógio não conseguiram acompanhar o tempo. Escureceu e era dia!
A chuva persistiu, formaram-se poças de água nas calçadas e um riozinho passou a correr feroz junto ao meio fio. Vestindo somente velhos shorts remendados dois meninos brincavam com as águas como se fossem marinheiros. Depositavam seus barquinhos de papel na correnteza, no início da rua e os seguiam no difícil percurso até próximo ao bueiro sedento que engolia tudo. As pequenas embarcações dançavam desengonçadas ameaçando ir a pique a todo o momento. Felizes os meninos vibravam com as ultrapassagens que se alternavam obedecendo ao fluxo intenso das águas. Os pingos encharcavam seus cabelos, escorriam pelos seus corpos seminus. Tantas foram às vezes que subiram a rua transportando seus barquinhos até o ponto de largada que perdi as contas. Também não me foi possível distingui o vencedor da regata, mas pela felicidade em que os dois se encontravam cheguei a conclusão que foi bom ter chovido.

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