segunda-feira, 7 de junho de 2010

GARRAFEIRO


O dia amanhece e o homem calçado com tamancos, vestido calças listradas, camiseta branca e gorro na cabeça, desce a rua, puxando o seu carrinho de duas rodas em busca de garrafas, revistas e jornais. Garrafeiro! Garrafeiro! Garrafeiro! Garafeiiiiro! Ali aos poucos vão se compactandado notícias de todos os países. O mundo oscila e se estabiliza no salto de seus tamancos corroídos pelos paralelepípedos do caminho. São quilômetros percorridos diariamente a procura desse material desprezível. Uma atitude política e ecologicamente correta e talvez quem sabe, a implantação do processo de reciclagem em nosso país, antes mesmo da crise ambiental ganhar a proporção ameaçadora de hoje. Porém inconsciente, sem nenhuma conotação política ou ambiental, apenas a forma exaustiva encontrada de sobrevivência nesta nova terra.
Tarefa árdua, conduzir tanta desigualdade social e se manter estável, conviver lado a lado com as autoridades e distante do poder e das regalias que esse proporciona. Ah, esse mundo composto de papel é flácido e inflamável, a tinta deixa uma mancha escura nas mãos e na própria alma!
Patrício português que atravessou o atlântico em busca de liberdade, essas ruas são suas e o material disponível é farto. Diariamente as maquinas rodam milhões de folhas e as notícias são as mais variadas possíveis - os homens relatam, retratam e inventam. Há sempre um rosto, um crime e um herói. Agora mesmo, neste momento algo esta acontecendo; nas maternidades, mulheres dão a luz, cientistas procuram em seus laboratórios o método ideal, artistas em seus estúdios e ateliês criam sons, palavras, cores e formas, adolescentes em todos os cantos se rebelam e o poder como sempre, centralizado reprime.
As pedras do caminho estão ai para serem ultrapassadas e o limite é a sua perseverança. Muitos vieram e se foram, mantiveram-se despercebidos diante às notícias. Mas, eu não o poderia deixar passar em vão.
A tarde escurece e o homem sobe a rua puxando o carrinho de duas rodas, carregado de garrafas, revistas e jornais. O pregão se espalha no ar. Garrafeiro! Garrafeiro! Garrafeiro! Garrafeiro! Garafeiiiiiiiroo!!!!!!!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário